sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Cusco

Cheguei hoje em Cusco. Ainda nao deu pra ver muita coisa mas a cidade é linda. Ela sobe por um vale verde. Bom de ver, depois de ter passado um tempo pela parte desértica do país. Nas ruas, uma mescla de arquitetura colonial com o que sobrou dos incas.
Amanha parto pra trilha Inca a Machu Picchu. Sao quatro dias de caminhada, pelo caminho que os Inca utilizavam pra chegar na cidade escondida. Na volta pretendo passar uns dias aqui em Cusco. Merece...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Revés

Sábado. Como partiria para Huaraz às 22;00, decidi levar minha mochila cedo pra companhia de ônibus e ficar com o dia livre, no Centro de Lima. Melhor do que deixar no albergue, já que a cidade é enorme e esse fica longe do Centro. Peguei um taxi, em frente ao albergue. Quando estávamos no meio de um cruzamento, já afastado da área nobre da cidade, o carro enguiçou. O motorista saiu pra empurrar e me pediu ajuda, naquela situaçao difícil. Empurramos e de repente ele pulou pra dentro do carro e quando fui entrar ele acelerou. Ainda consegui agarrar o aerofólio, que era vazado, como uma grande alça. Ele me arrastou por uns metros mas nao aguentei por muito tempo. Asfalto. Me levantei e corri atrás do carro por um quarteirao. Ele virou a esquina e sumiu.
Foi um dia incomum, com sequências de tristes coincidências e falta de sorte. As cidades do Perú (e Bolívia) tem dois tipo de taxi. O cadastrado e o informal. O último, normalmente, trás apenas um adesivo colado no vidro dianteiro, dizendo "TAXI". Os oficiais sao carros preparados, com o luminoso "TAXI" e tudo mais. Como eu tinha todos os meus pertences comigo, peguei o oficial. Errado. Mais tarde, na polícia, descobri que os oficiais sao somente os carros brancos e amarelos. Eu entrei num taxi vermelho (a cidade está cheia deles).
Sempre trago meu passaporte e cartao de banco (os dólares já estavam bem no fim, ainda bem) colados no corpo, naquelas bolsas para dólar. Esse foi o único dia em que saí na rua com essa bolsa dentro da mochila. "Depois eu ponho na cintura".
Quando o carro enguiçou eu tive uma grande desconfiança de que aquilo poderia ser um golpe, mas de repente isso se dissolveu um pouco. Dias antes, em Arequipa, peguei um taxi que ficou sem gasolina e os estrangeiros que dividiam o carro comigo me disseram que isso era comum por aqui. "Os taxistas andam sempre no limite". Mesmo assim quando saí pra empurrar o carro, parei pra tentar alcançar minha mochila menor (onde estavam as coisas de valor) e logo depois desisti; "Dá um crédito pro cara. Vamos tirar logo esse carro do cruzamento". Empurrei o carro, com uma pulga atrás da orelha, pronto pra pular de volta pra dentro. Nao consegui, ele foi mais rápido.
Quando se está viajando sozinho, já por um certo tempo, seus pertences pessoais sao sua única referência de casa. Quando você perde tudo, sente-se como se sua casa tivesse queimado por completo, num grande incêndio. Agora só resta sua roupa do corpo. Mas o que tenho mais sentido, é raiva. De mim e do taxista desgraçado. Minha, porque nao aprendi nada com isso, afinal já sabia como deveria ter agido pra evitar isso tudo e nao o fiz. Agora ando pelas ruas de Lima buscando o taxi que sumiu. Se eu encontrá-lo tem o risco de que fique por aqui mais alguns anos, já que vou arrastá-lo pra fora do carro e sujar o asfalto de vermelho.
Minha sorte é que tinha feito uns amigos por aqui, dias antes, que tem me dado moradia e ajuda. Até roupa já ganhei. Todos se dizem envergonhados dessa situaçao de Lima mas quem sou eu, como carioca, pra julgar a violência de outros centros urbanos. Conheci um Limenho que também perdeu tudo no Rio. Ele estava viajando, havia meses, pela América Latina, sem maiores problemas. Intercâmbio de roubadas.
Mas tô inteiro, tirando um hematoma na mao direita e um arranhao na esquerda, e sigo em frente. A viagem continua, com certeza. Agora com um novo desafio. Quanto tempo eu consigo viajar só com a roupa do corpo? Façam suas apostas!
Próxima parada, Cuzco, Machu Picchu!

PS. Alguém tem conta no Banco do Brasil? A Lia tá tentando trasferir um dinheiro da minha conta via Western Union. Parece que só se faz isso via correntista do BB. Por enquanto, vou mendigando...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Nasca


foto (roubada) da internet




Cheguei a Nasca hoje, às 5:30, vindo de Arequipa. A cidade vive em funçao das famosas Linhas de Nasca. Já na rodoviária (àquela hora) algumas pessoas me cercaram, tentando vender sobrevôos pelo local. Preferi arrumar antes um hostal pra depois ver a melhor opçao, com calma. Fechei um vôo mais uma visita ao cemitério de chauchilla, numa promoçao.



Em frente a pista de decolagens, várias diferentes companhias e suas salas. Esperei, vendo um documentário sobre as linhas. Ninguém tem a certeza de quem desenhou estas linhas gigantes e nem para quê. Maria Reiche (uma alema que estudou as linhas por décadas, e que depois de morta virou heroína de Nasca) tem a tese mais respeitada de que esses desenhos teriam sido feitos pela civilizaçao Nasca como um calendário astronômico.



Me indicaram um mono motor de quatro lugares. Piloto, eu e um casal de dinamarqueses, atrás. O aviao parecia bastante rodado. Pneu do lado direito careca. Painel gasto, com algumas adaptaçoes. Parecia que faltava alguns marcadores que foram substituídos por placas de metal pretas. Mas como nao sou nenhum expert no assunto, acreditei no piloto que disse que aquele aviao "es muy bueno". Decolamos.



As linhas ficam no meio do deserto e foram feitas simplesmente com a remoçao da terra escura e pedregosa da superfície do terreno. Sao desenhos enormes, de pássaros, macaco, pessoas e etc. Tudo desenhado pra ser visto de cima. Muito de cima. Por isso muitos acham que sao oferendas aos deuses.




Amanha tento contar como foi o cânion e Arequipa.


Mudei meus planos e parto hoje, as 4 da madrugada, pra Paracas (antes eu ia direto pra Lima, mas parece que vale a pena passar por lá antes). Vou até o trevo, onde passa a pan americana, e lá pego algum ônibus que esteja passando para Pisco. Desço numa entrada antes da cidade (já as 7:30) e de lá pego um ônibus pra Paracas, onde pego um barco pras ilhas Ballestras. Tudo isso porque os barcos só tem saído até as 10 da manha e nao existe ônibus, direto de Nasca, que chegue lá antes desse horário.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Homem fazendo roupas de la, em Taquile




Preparando a totora














1 iha de Urus





Remando barco de totora
PS. Amanha parto pra uma trilha de 3 dias pelo cânion de Colca. Na volta, conto. Abraços.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Puno

Anteontem cheguei em Puno, no Peru. A cidade fica à beira do Titicaca também. Ontem comecei um tour por algumas ilhas deste lado.Saímos cedo para Urus, umas ilhas flutuantes há 30 minutos de Puno. Sao ilhas feitas de totora, uma planta que dá que nem praga no lago. Os Urus, pra fugir dos conflitos com os colonizadores, construíram ilhas inteiras desse material. Eles usavam totora pra tudo. Comiam isso, construíam seus barcos, suas casas e suas ilhas. Elas tem uns 50 X 50 mts e sao flutuantes, ancoradas ao fundo do lago (em regioes rasas) por lanças de madeira. Hoje quem vive nessas ilhas (sao mais de 50 delas) sao descendentes desse povo, mixigenado com Aimáras.A chegada na ilha é meio circo pra turista ver, já que a economia deles depende disso. As mulheres cantando músicas típicas e expondo seu artesanato. As casas parecem meio cenográficas e existem rumores de que alguns deles vivem em Puno e vao de manha cedo pra ilha, receber os turistas. Eles juram que nasceram ali e ali vao morrer e que por vezes vao a Puno mas só pra comprar alguma coisa importante, depois voltam pra casa flutuante, em seus barcos de totora. Bom, verdade ou nao, as ilhas estao lá, sao feitas desse vegetal (assim como os barcos, casa e tudo) e seus antepassados viveram isolados ali durante muitas geraçoes. Impressionante.
Depois fomos pra Amantani, uma ilha já bem mais longe da costa (3:30hs de barco). Lá fomos recebidos pelo povo local e divididos por grupos, de 3 ou 4, pra ficar alojados na casa destas famílias. Fiquei na casa da Jení, uma simpática moradora de Amantaní que tem o sonho de falar inglês. Entre eles, só Aimara. Nao dá pra entender uma palavra. Minhas companheiras de casa foram duas alemas, que moraram no Brasil. Figuraças. Passei esses dois dias falando portugues com elas. Sotaque e jeito muito engraçado.Jeni nos deu almoço, jantar e a noite nos levou pra festa da ilha (feita pros turistas, claro!). Ela me emprestou um poncho e um gorro típico e vestiu a alema com suas roupas. Hilário! Musica típica e dança. Depois que peguei o jeito dei uns giros na Jeni.
Depois do café da manha partimos pra outra ilha, chamada Taquile, que é um pouco maior que Amantani e mais equipada. As duas ilhas nao tem luz elétrica (Taquile tem algumas casas com painel solar) e vivem basicamente da agricultura e artesanato (agora, um pouco do turismo também). Outro tempo de vida, totalmente diferente. E outras regras. Nao existe polícia, por exemplo. Só as leis básicas que vem da época dos Incas: Nao roube; nao minta; nao seja preguiçoso!
PS. Amanha tento postar algumas fotos. Tô sem a máquina aqui.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Isla del Sol











Fui de La Paz à Copacabana e lá peguei um barco para a Isla del Sol. O lago Titicaca é gigantesco. Sao 204 km por 65 km. Estima-se que sua profundidade ultrapasse os 360 mts. Durante a viagem (1:30) vê-se ilhas, costa e água sem fim pelo horizonte.


Chegando na ilha um garotinho local me perguntou se eu tinha onde ficar (eles mostram os endereços, já que na ilha nao existem ruas. Só caminhos de pedra, sem nome) e lhe dei o nome de um hostal; indicaçao de um espanhol. Ele me disse, "esse é longe". "Eu aguento", eu respondi, cheio de disposiçao. "Me segue". A ilha inteira é formada por montanhas e a caminhada começa pela escalera del Inca, um escadaria de degraus espaçados, construída pelos Incas. Comecei bem, seguindo o moleque, mas no meio da escada acabou o oxigênio. A mochila pesada e a altitude tornam essa subida um calvário. Vários turistas pálidos, tentando respirar fundo e seguir em frente. Depois de umas 10 paradas pra respirar, chegamos ao Hostal. Em cima da montanha, uma vista espetacular. Deitei na rede e fiquei.


Dia seguinte cruzei a ilha inteira (5 horas, ida e volta), de sul à norte, até um palácio Inca. Acredita-se que Manco Capac e Mama Ocllo, os primeiros Incas, surgiram na ilha e de lá foram à Cuzco, fundar o império Inca.

A ilha inteira é marcada pelas terrazas incas. Sao cortes planos na montanha, usados há séculos, como soluçao pro cultivo. Além de plantaçoes, o povo local usa esses pastos pra criaçao de animais (mulas, porcos, ovelhas e lhamas). As mulas sobem, durante todo o dia, com barris d'água pra parte mais alta da ilha, já que a fonte fica quase no nível do lago. Trabalho duro. Uma boliviana me disse, em La Paz, "um pecado se duchar na Isla del Sol".
À noite, cerveja e pizza com outros viajantes. Dois argentinos vieram pra ilha de barco a remo. Alugaram o barco em Copacabana e o dono veio junto pra ajudar. Cinco horas remando. Um deles, a cara toda vermelha de sol, disse que no meio do caminho cruzaram com barcos a motor lotados de gente que ria deles e tirava fotos. Atraçao turística.